Por Fernanda Trigo Costa – 29/07/2021 – Lua Cheia
Há tempos eu não sentia tamanho frio na barriga.
Por meses se repetia, a cada vez que eu ouvia ela me chamar com sua voz a ecoar nos azulejos. Um tanto de medo acompanhado de pensamentos futurísticos sobre uma história que não é minha. Ou será que é?
Cheguei a cogitar interferir no rumo dessa história, mas eu não me senti autorizada, longe disso. Entre interferir e acompanhar, a escolha foi estar por perto e deixar ela viver sua própria história.
Desde o útero, era como se ela compreendesse tudo. Lembro-me de quando, com três anos, num embate para o banho, ela colocou as mãozinhas em meu rosto e disse: “Mamãe, você fala muito pra mim.”. A partir desse dia, tento ouvir e fazer, mais do que falar.
E eu ouvi. Ouvi, observei, pesquisei, senti.
Senti sua natureza, nos odores diferentes. Observei e contemplei suas mudanças corporais, pesquisei opções para facilitar as adaptações necessárias. E lá eu estava no início de seu primeiro ciclo. Sua voz ecoou pelo meu nome: Mãe.
Eu estava ali para dizer a ela que estava tudo bem, que nada mudaria exatamente agora, mas que aos poucos iríamos desbravar o universo feminino, juntas. Juntas, no início de um novo ciclo.
Descobrir a mulher que há em nós.
Redescobrir a mulher que há em mim.
A mãe da menina que virou Lua.
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